domingo, 14 de novembro de 2010

Observando o passado para compreender o presente da educação online

Embora a história da educação online seja curta, ela pode contribuir para que as iniciativas nesse campo sejam mais bem sucedidas. Mesmo que muitos desconheçam, já se passaram mais de trinta anos desde que as primeiras experiências de uso de recursos de redes informatizadas em cursos presenciais em meados dos anos setenta foram realizadas. A educação online surgiu antes mesmo da World Wide Web. Muitos desconhecem as primeiras iniciativas de Educação Online, os fundadores deste campo e o que estes pensam sobre as condições atuais de ensino e aprendizagem online.

Murray Turoff foi o primeiro a usar recursos para aprendizagem colaborativa mediada por computador quando criou, no início dos anos setenta, o primeiro sistema de interação coletiva assíncrona em rede, o EIES, e passou a utilizá-lo em cursos presenciais no New Jersey Institute of Technology (NJIT). Para ele, todos os softwares vão mudar muito rapidamente nas próximas décadas e, por isso, nenhuma organização ou professor deve se tornar dependente de um sistema. Segundo Murray, a aposta para o futuro deve ser feita não na sofisticação tecnológica, mas na sofisticação pedagógica.

Andrew Feenberg, filósofo especializado em Filosofia da Tecnologia, fez parte da equipe que desenvolveu o primeiro programa de educação online da história da educação na Escola de Gestão e Estudos Estratégicos do Western Behavioral Sciences Institute, na Califórnia. Uma de suas primeiras descobertas foi a de que o ambiente virtual era adequado à discussão de idéias e ao desenvolvimento de uma pedagogia baseada no diálogo. Para ele a qualidade dessas discussões online era superior às discussões em aulas presenciais. Outra constatação feita por ele é a de que o ambiente virtual favorece a interação escrita. O filósofo também acredita (e lamenta) que os avanços alcançados na educação online tenham se limitado à velocidade de transmissão de dados e à facilidade de uso das interfaces.

Linda Harasim, pioneira da educação online no Canadá e uma das autoras do livro Learning Networks (Redes de Aprendizagem), afirma que a aprendizagem colaborativa promovida por meio da interação coletiva deve estar no centro de qualquer projeto de ensino online. Ela acredita que no futuro toda educação presencial terá um importante componente online (a criação e manutenção deste blog enquanto produto de uma disciplina é uma evidência de que tal processo já está em curso). A autora também chama a atenção para o fato de que é preciso estar atento para não desenvolver novas ferramentas,apenas porque existem recursos para isso, elas devem ser desenvolvidas para que de algum modo possam aumentar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.

Já Robin Mason iniciou suas atividades em educação online na década de 80 e foi diretora do Instituto de Tecnologia Educacional da Open University, uma das mais respeitadas universidades a distância do mundo. Ela criou uma definição para um modelo de educação que vem crescendo nos últimos anos, o "modelo híbrido", que seria resultado da utilização de atividades online em cursos presenciais. Mason visualiza neste modelo a capacidade de diminuir resistências em relação à educação online e assim contribuir para a construção de uma cultura de uso dos ambientes virtuais de aprendizagem.

No entanto, é importante observar que essas pessoas desenvolveram suas atividades em um período no qual a computação pessoal ainda estava se estabelecendo, ou seja, eles não viviam em um contexto repleto de inovações tecnológicas, não os ameaçava a sensação de obsolescência, que muitas vezes desencadeia uma necessidade de acompanhar constantemente o surgimento das novidades tecnológicas, e que pode desviar o foco da preocupação com a pedagogia apenas para a utilização de novos suportes na prática educacional online. Provavelmente, por não terem vivido nesse cenário onde frequentemente surgem inovações, os pioneiros da educação online puderam pensar com mais calma nos aspectos pedagógicos e metodológicos. Por fim, parece ser este o maior desafio para a educação online atualmente: buscar melhorias pedagógicas e metodológicas e não ter apenas a busca por sofisticação tecnológica como principal meta.

Fonte:http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/152/1/Revista-Discursos103-110.pdf

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